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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Conto de terror - A lambida do cão


Certa vez ouvi de um primo meu o conto que narro em seguida. Achei a história muito criativa, e foi muito bem conduzida na narração dele. Pesquisei o conto na internet e não obtive relatos de seu autores. Provavelmente seja um conto popular, e possivelmente você já o tenha ouvido. Mas decidi escrevê-lo do meu próprio jeito, influenciado pela narração de meu primo, com adaptações e acréscimos que o texto me exigiu ao deixar de ser oral para ser escrito. E o conto começa...



A lambida do cão

Isabela tinha 11 anos. Vivia em uma grande cidade no leste dos Estados Unidos. Era calada e reservada, mas uma pessoa muito meiga e educada que conquistava até por sua timidez. Filha única, morava com os pais, e passava a maior parte da tarde sozinha em casa, na companhia apenas de seu cãozinho, um Sheepdog de 3 anos, a quem amava e era extremamente apegada.

O cachorro dormia em seu quarto todos os dias. Tinha o costume de dormir embaixo da cama e de acordá-la todos os dias de manhã, lambendo seu braço. O carinho do cachorro lhe fazia bem, e acariciá-la fazia bem ao cachorro.

Certa vez, no começo das férias de verão, Isabela e seus pais foram viajar para o interior do estado, a convite de amigos da família, que também cederam a casa para que a família de Isabela se hospedasse. Isabela não abriu mão de levar seu cachorrinho.

A cidade era urbana, mas bem pequena e com muitas relíquias arquitetônicas datadas de um século atrás. As pessoas pareciam calmas e sem pressa, o trânsito era tranquilo. Era exatamente o que os pais de Isabela buscavam para descansar da rotina de trabalho.

Chegaram na cidade no final da tarde. A casa tinha um jardim pequeno, mas um bom espaço interno. Isabela ficou com uma suíte bem grande só para ela, onde também ficaria seu cachorro.

No primeiro dia na casa, Isabela se deparou com uma janela que não podia fechar. Por mais que tentasse, a janela de seu quarto superava o trinco e voltava a abrir. Saiu a caminho de pedir ajuda ao seu pai, porém foi distraída pelo convite de um jantar. Seus pais e os amigos tinham decidido ir a um restaurante muito renomado na cidade.

Voltaram bem tarde para a casa. Todos foram dormir.

Isabela acordou no meio da noite ouvindo uma goteira vinda do banheiro. Estava tão cansada que não se importou em ir resolver o problema do barulho. Colocou a mão embaixo da cama, como tinha costume, para que o cachorro respondesse lhe acariciando com uma lambida. Ela sentiu a lambida e voltou a dormir.

Alguns minutos depois, acordou e a goteira ainda podia ser ouvida. Tinha acabado de ter um sonho estranho, estava assustada. Para não se sentir sozinha, colocou novamente a mão embaixo da cama para sentir a lambida de seu cão. Ele correspondeu. Mas a goteira não a deixava em paz.

Finalmente tomou coragem e levantou-se, determinada a fazer o barulho parar. Sem acender a luz do quarto, foi até o banheiro, guiada apenas pela fraca luz da lua que entrava pela janela. Chegou no banheiro, acendeu a luz e viu a cena mais terrível de toda a sua vida: seu cachorro estava pendurado com uma corda fina amarrada ao pescoço e presa ao chuveiro. Morto.

De seus ferimentos, não parava de sair filetes de sangue, escorridos pelas patas traseiras até pingarem e ecoarem pelo ralo.
Já quase sem sentidos, Isabela mirou o espelho, onde não pôde deixar de chamar atenção o sangue espirrado. E, escrito no sangue, a mensagem: "Humanos também lambem".
Versão de Raphael Samaniego

Imagem: [CC] little*harry (modificado)

Mais um conto?

O cômodo vazio (Raphael Samaniego, 2023)

Eu suspeitava que o cômodo estaria vazio. Eu cheguei sorrateiramente, como de costume. Não se pode confiar no que se acredita: os pensamentos geralmente estão errados. É melhor ter cuidado.

O cômodo estava vazio. Tinha uma escrivaninha, um armário, algumas cadeiras esparramadas…

O cômodo não estava vazio: tinha uma escrivaninha, um armário, algumas cadeiras esparramadas.

Tinha muitas coisas no cômodo, que não vou listar pois eram muitas e na verdade não interessa. O fato é: não havia ninguém no cômodo.

Eu vim aqui ontem e voltei hoje para conferir se não havia ninguém aqui. Esse cômodo na verdade é onde eu moro. Então eu venho sempre aqui. Exceto quando eu prefiro ficar lá fora. Porque é menos assustador. Menos seguro e menos confortável, mas menos assustador. E menos solitário.

Eu moro sozinho. Pelo menos, é o que parece.

O problema é…

O problema é…

Espera, deixa eu respirar.

O problema é… Eu recebo visitas que não são convidadas. Eu não sei de onde elas vêm. Eu só sei que elas não existem, mas também não tenho certeza. E elas…

Elas…

Desculpa, não era para eu chorar mais por causa disso. Mas me assusta.

Elas são pessoas más.

Eu não sei o que elas querem. Eu não sei por que elas estão aqui. Eu também não sei como é a aparência delas exatamente, porque elas sempre se movimentam muito rápido ou escondem seus rostos virando-se na direção oposta a mim. Exceto uma vez: uma vez eu vi uma mulher.


Leia este conto completo gratuitamente no Kindle Unlimited (você pode solicitar uma assinatura grátis de 30 dias), ou adquira-o no Kindle por 2 reais, ou peça o PDF para o autor pelo Twitter ou Instagram @55rph. Também disponível em inglês como The Empty Room. É um conto de 8 minutos de leitura no estilo de terror psicológico sobre paranoia, alucinações, assombração, solidão, deslocamento social, neurodivergência. Foi escrito em 2019 e publicado originalmente no livro Tempestade (Raphael Samaniego, 2023). 









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